sábado, 30 de janeiro de 2016

Pelo Douro Vinhateiro

Decidimos ir de fim-de-semana com um grupo de caminheiros (Caminhos com Carisma) e conhecer o Alto Douro Vinhateiro de uma forma diferente: a caminhar!
No final, revelou-se uma óptima decisão e uma boa experiência. A caminhar podemos observar tudo com mais calma e pormenor, podemos sentir cheiros, observar as cores, ouvir o silêncio no vale, parar e respirar!
 Região Vinhateira do Alto Douro ou Alto Douro Vinhateiro é uma área do nordeste de Portugal com mais de 26 mil hectares, classificada pela UNESCO, em 14 de Dezembro de 2001, como Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural e rodeada de montanhas que lhe dão características muito particulares.
Esta região, que produz vinho há mais de 2000 anos, entre os quais, o mundialmente célebre vinho do Porto, merece realmente uma visita pela extraordinária beleza paisagística, sempre com o rio Douro como fundo, e para apreciação do maravilhoso trabalho humano com as vinhas pormenorizadamente alinhadas, fazendo desenhos geométricos ao longo das colinas.
Lá em baixo, no rio, os barcos passam e de vez em quando, o comboio interrompe o silêncio para nos lembrar do quão bonita deverá ser aquela viagem por túneis nas encostas e sempre junto ao rio. É uma paisagem romântica que no Outono se valoriza com as cores alaranjadas e vermelhas típicas da época, e com as nuvens baixas que, por vezes, cobrem as encostas e lhes dá um misticismo fotogénico.
Zé a partir amêndoas

Da natureza pudemos colher maçãs, marmelos, amêndoas, uvas, e apanhámos alguma chuva, que de vez em quando, não faz mal a ninguém. Gosto de a sentir, quando não é demasiada, faz-me simplificar tudo e não me importar com demasiada coisa a não ser caminhar e apreciar!
Em jeito de síntese, começámos a viagem fazendo Lisboa-Lamego, onde dormimos, para no dia seguinte seguirmos cedo para a vila do Pinhão.
Um dos painéis de azulejos do Pinhão
estação dos caminhos de ferro do Pinhão é conhecida pelos seus 24 painéis de azulejos, que retratam paisagens do Douro e aspectos das vindimasO caminho de ferro foi um dos motores de desenvolvimento do Pinhão, e foi por isso, a primeira freguesia do distrito de Vila Real a ter telefone, correio permanente, água canalizada e Casa do Povo.
Depois de deixarmos as coisas no hotel, seguimos para Ervedosa do Douro onde fizemos o percurso pedestre “Rota das Vinhas” de sensivelmente 17 km. Pelo percurso, corremos as vinhas, vemos o rio à espreita e vamos aos "ésses" entrando pela paisagem, observando as cores mudar e descendo até à Quinta de S. José, que visitámos, e onde ouvimos a explicação do actual enólogo e dono da propriedade, saboreando 3 dos seus vinhos aos quais ficámos rendidos pelo sabor realmente distinto do Vinho do Porto a que estávamos habituados. Subida de volta a Ervedosa e jantar pelo Pinhão.
Ervedosa do Douro
No dia seguinte, percurso pela Quinta das Carvalhas, localizada do outro lado da Ponte que nos leva ao Pinhão. Cerca de 10 km a percorrer uma propriedade única e antiga, desde a década de 1950 pertença da Real Companhia Velha.
Quinta das Carvalhas
Fomos acompanhados por um Engenheiro Agrónomo que deixava transparecer o seu gosto pelo trabalho e pela terra onde vive. Ama cada planta, conhece-as e respeita-as. Conta-nos os seus segredos e é impossível não sairmos de lá mais sensibilizados para com a Natureza e com aquilo que magnificamente nos pode dar.

"Visitar a Quinta das Carvalhas é ver o Douro por dentro – com os trabalhos da vinha (como a poda, a escava ou a vindima), a apanha da azeitona ou a reconstrução dos tradicionais muros de xisto – e os melhores ângulos da sua paisagem. É ver vinhas com mais de 80 anos e encostas com 70 graus de declive; é admirar os rios Douro e Torto; é desfrutar de fauna e da flora em simbiose: pela Quinta das Carvalhas, para além de vinha, estão espalhadas zonas de mata, floresta, olival e jardins, construídos com pedras de granito antigas e esteiros de xisto e onde foram plantadas várias espécies de flores, plantas e ervas aromáticas."
No final da visita, houve nova prova de vinho e depois seguiu-se um passeio, pelo Douro, em barco rabelo para montante em direção à foz do rio Tua. Através de um áudio-guia, foram-se avistando outras quintas vinhateiras com casas de sonho, isoladas nas encostas, socalcos até ao rio e vinhedos. Passámos a Quinta dos Alvedos (onde se filmou a parte final do flme português "A Gaiola Dourada") e foi-nos oferecido vinho da Quinta do Portal.
Santuário da Nossa Senhora dos Remédios - Lamego
Comboio no vale do Douro
A chuva chegou para anunciar o regresso a Lisboa, mas nós ainda voltámos a Lamego para lanchar e para subir os 613 degraus do Santuário da Nossa Senhora dos Remédios. Lamego é muito bonita, considerada uma cidade histórica e monumental, pois possui uma grande quantidade de monumentos, igrejas e casas brasonadas, o que a faz ter um bonito centro histórico. 
Vale a pena pensar seriamente numa visita a esta zona!
Curiosidades:
"Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), mais conhecido por Marquês de Pombal, viria a mudar a situação económica da região, ao criar a primeira região vitícola regulamentada do mundo, demarcando o Douro Vinhateiro (1757-1761), através da colocação de grandes marcos de granito, no terreno, com a palavra “Feitoria”. 
A paisagem atual da região do Douro, caracterizada pelos socalcos, foi construída durante a década de 70, com a aplicação de novas técnicas de plantio da vinha, em patamares, com muros de xisto a delimitar cada nível. Esta alteração da paisagem pela atividade humana, contribuiu para que o Alto Douro Vinhateiro fosse considerado Património Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2001."