quinta-feira, 5 de julho de 2012

Plas dunas...

  


Por vezes não pensamos nas coisas que nos rodeiam e às quais já nos habituámos. É, por isso, importante lembrarmo-nos que são os pequenos gestos que fazem uma grande diferença.


"As dunas são estruturas móveis resultantes da acumulação de areias transportadas pelo vento, nas quais as plantas têm um papel fundamental no seu processo de formação. Constituem ecossistemas costeiros que estabelecem a transição entre os sistemas marinho e terrestre e são uma barreira natural de protecção à paisagem humanizada adjacente. Deste modo, devem ser protegidas.

Que comportamentos para proteger as dunas?
O facto de os sistemas dunares serem formações FITOGEODINÂMICAS em permanente equilíbrio dinâmico, intimamente dependente do coberto vegetal vivo, implica que qualquer factor externo ao sistema terá consequências desequilibrantes e dificilmente compensáveis (pisoteio, vegetação infestante, obras de engenharia costeira, etc.). Caso a vegetação fixadora das dunas seja degradada e destruída, todo o sistema dunar será afectado negativamente.

Como forma de contrariar esses fenómenos indesejáveis todos nós, enquanto utentes das praias, deveremos ter comportamentos adequados no sentido de evitar a degradação das dunas:
- utilizar as passadeiras aéreas quando existam, caso contrário utilizar os trilhos já existentes sobre a duna (nunca traçar novos trilhos);
- não passear ou apanhar banhos de sol nas dunas, não andar a cavalo e de veículos motorizados;
- não colher a vegetação das dunas;
- chamar a atenção de amigos e familiares para a correcta utilização das dunas;
- tomar conhecimento e respeitar a legislação que existe para efeitos de protecção das dunas."


Para saber mais:
Dunas – O que são, como se formam, qual o seu valor e sensibilidade?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Até para o ano, Primavera!




Maneira de Amar


"O jardineiro conversava com as flores e elas habituaram-se ao diálogo. Passava as manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com a sua cara, ou porque não era um homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos por natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé do girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.O dono do jardim achou que o seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora depois de assinar a carteira de trabalho. Depois de o jardineiro sair, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "TRATAVA-LO MAL, AGORA ESTÁS ARREPENDIDO?" "NÃO, RESPONDEU, ESTOU TRISTE PORQUE AGORA NÃO POSSO TRATÁ-LO MAL. É A MINHA MANEIRA DE AMAR, ELE SABIA DISSO, E GOSTAVA"."Carlos Drummond de Andrade
"Quem deseja possuir uma flor, irá vê-la murchar. 
Mas quem olhar uma flor no campo, terá esta beleza para sempre."
        Paulo Coelho


                               "Faça os seus dias valerem as lembranças"
                                        Bill Milton

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Cais do Sodré











Cais do Sodré, zona de transição entre o moderno e o antigo.
Na mesma zona, que agora até está na moda, há modernas ciclovias, esplanadas junto ao Tejo, autocarros turísticos de dois andares e bancos confortáveis e coloridos.
Os velhos e desempregados aproveitam esses bancos para trocarem conversas e irem deixando os pensamentos desvanecerem-se na ondulação do Tejo, que leva a vista para a outra margem.
Na mesma curiosa zona convivem bares nocturnos da moda e prostitutas, ciclistas de fim-de-semana e desempregados. Vagueantes, pedintes , bêbedos e pessoas que gozam o sol na esplanada.
As conversas perdem-se junto ao rio... As horas passam e os assuntos trocados não ficam mais interessantes. Conversas sem propósito fazem os dias de quem por aqui vai ficando. Quem está de passagem, sorri. Observa a paisagem e segue.
Se se quer estar com Lisboa, sentir o Tejo nos salpicos da passagem dos cacilheiros, ouvir as gaivotas rabugentas, e os velhos do Restelo esquecidos e à margem... O Cais do Sodré é o local.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cabo Verde




























Cabo Verde, terra do calor e dos sorrisos. Do leve, levezinho, devagar, devagarinho quase parado. Terra do "no stress". O calor não o permite! São 11h e está um calor que nem me atrevo a ir para o sol; nem o quero tocar. Não me apetece fazer nada enquanto a água se evapora pelos poros e escorre pelas costas. O corpo não responde ao que a cabeça pensa. Estou habituada a férias em movimento e por isso a minha cabeça por vezes hesita. Mas o corpo só quer estar fresco e deitado. E que bem que sabe! Adormecer na varanda com um calor bestial à meia-noite e o céu a cobrir-se de relâmpagos. Sem barulho. Sem chuva. Tudo seco. Dizem que aqui só chove quando o Benfica ganha. 
Os cabo-verdianos são pessoas muito bem dispostas e brincalhonas. Farto-me de rir com eles. E é por isso que a minha cabeça se prende entre o sossego do hotel, o azul fresco da piscina e as voltas pela cidade para observar o movimento e conhecer as gentes. 
Sinto-me bem aqui, neste hotel tranquilo, sem demasiada gente e de índole familiar. A piscina tem sempre pouca gente e a música é suave. Quando chegámos no novo jipe da Toyota Prado foi um encanto para os empregados: "Vieram no Prado?" "Txiii!" - diziam contentes. E aquilo fazia sorrir pela simplicidade. Como crianças que se deslumbram com as pequenas coisas. Que bom! 
Como dizia, a minha cabeça relembra férias sossegadas no Vimeiro onde os dias eram quase sempre passados na residencial, onde lia e escrevia, brincava, e por vezes dávamos passeios pelas redondezas. Todas as manhãs ia a pé à vila buscar o jornal. Conversava-se entre canaviais e macieiras, junto ao riacho que alimentava as plantações. Aqui em Cabo Verde, o tempo passa devagar, o calor escorrega-nos pelos poros, e tudo se faz com calma. Deixa-se para amanhã o que se pode fazer hoje, mas mesmo assim, o dia ainda permite fazer imenso. Os pardais refrescam-se à beira da piscina, os trabalhadores dormem às sombras dos prédios, e alguns exercitam-se, correndo à beira-mar. Ao fim do dia as crianças riem alto enquanto brincam nas ondas junto ao pontão. E os pescadores amanham o peixe enquanto que os vendedores, com as suas tendas no pontão, trabalham a pedra e a madeira, alternando o seu trabalho com o descanso à sombra do muro. Enquanto isso, vão espreitando o jogo da bola que ocorre entre as balizas montadas na areia. As cores das camisolas ressaltam na areia branca e jogam com o azul cristalino do mar. 
Senegaleses e outros vendedores cabo-verdeanos mais escuros tentam angariar turistas para as suas lojas. Isto é o mais aborrecido: um simples passeio descontraído pode deixar de o ser pela extrema insistência dos vendedores para comprarmos as suas coisas porque dizem precisar de dinheiro para comer. Neste encontros aproveito para saber mais deles, e perceber porque estão ali, e como é o nível de vida que levam. Acabo por compreender que estão ali à procura do turismo que lhes dá dinheiro para enviarem para casa. Alguns sonham regressar às famílias. Dizem que a situação no país deles já está a melhorar. Cabo Verde é, mesmo assim, muito pobre e a felicidade deles é o futebol. Todos falam do Benfica, Porto e Sporting. 
No Sal, os souvenirs não são baratos, os preços também não. Dizem-me que ali a vida é cara por causa dos turistas. Outras ilhas menos procuradas conseguem resistir ao aumento de preços, mas a oferta de possibilidades de trabalho também é inferior. Sal é turístico e os preços não mudam para turistas e locais. Só as lojas de chineses trazem preços baratos. Os Cabo-verdeanos sabem que é o turismo que beneficia a ilha. Ilha essa que é a mais plana do arquipélago. Seca e plana. Com estradas pobres e de terra, e muito poucas povoações. As casas são de cimento e betão inacabadas. Em muitos locais a água não é canalizada, há poucos carros e poucas estradas asfaltadas. Os animais vivem pobremente e em Terra Boa, o deserto deles que curiosamente é a zona mais fértil, mas apenas quando chove, vivem agricultores cujo sustento são os animais que maltratam. A terra é seca e escura, onde se conseguem ter miragens quando o calor aperta demais. 
Cabo Verde é terra de sorrisos, mas de crianças que pedem timidamente uma moeda. Terra de Funaná e dança do roça-roça. Terra do descanso. Na praça de Santa Maria, o povoado a Sul da ilha, os locais sentam-se a conversar e passam nas suas t-shirts do Benfica e do Porto. As crianças brincam livremente, pulam, riem alto. No fim bebem refrigerantes pela palhinha felizes. Cabo Verde deixa saudades pela tranquilidade a que me habituo depressa. Bebo um ponche no restaurante Funaná e observo com calma quem passa e o que me rodeia. Vejo grupos de estrangeiros alemães, alguns portugueses que voltam sozinhos às ilhas e pagam cervejas às cabo-verdeanas enquanto lhes contam os planos para regressar, desta vez a Santiago, ou Boavista! Ilhas próximas e tão diferentes fisicamente. Diversidade boa que é notada, também, nas pessoas que ora são escuras, ora têm o cabelo queimado do sol, pele mais clara e olhos verdes. Os cabo-verdeanos, no Sal, são cuidados com o físico, passeando-se em tronco nú ou de t-shirts justas exibindo corpos esculturais. 
Vai deixar saudades esta tranquilidade, o mar quente e transparente e as praias longas onde não se vê vivalma. Deixam saudades os sorrisos calorosos, a ingenuidade, a experiência de mergulho, os banhos no lago salgado das salinas de Pedra Lume, qual Mar Morto, nunca se vai ai fundo! Terra promissora, em ascenção, onde há muito a ser feito. Eles dizem esperar que os turistas queiram investir. Crescem aldeamentos, vendem-se apartamentos, constroem-se resorts. Já há muitos que por ali ficam. Italianos que apostam na construção e em restaurantes com a sua comida. É só querer, é só termos vontade e ideias. Podia habituar-me a isto.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cabo Espichel











O Cabo Espichel é um dos locais mais notáveis da Costa Portuguesa, não só definindo o fim da zona terrestre e o início da imensidão do mar, mas sendo também local de cultos religiosos. Na sua extremidade, vislumbra-se, a vertiginosa Baía dos Lagosteiros.
O Cabo Espichel tem também grande interesse do ponto de vista botânico e do ponto de vista ornitológico, sendo especialmente apropriado para programas de observação da fauna, flora e da paisagem.

Do ponto de vista da flora destaca-se neste local a presença de duas espécies endémicas arrabidenses, a Corriola do Espichel e o Trovisco do Espichel, plantas extremamente raras que existem apenas nos afloramentos calcários e nas arribas costeiras do cabo Espichel.
Nas suas origens serviu de lugar defensivo do território. No século XVIII se ergueu nos seus arredores um santuário dedicado a Nossa Senhora do Cabo, que conta a lenda apareceu à um casal de idosos neste lugar no ano de 1410. Foi o primeiro lugar onde se instalou um farol para iluminar a costa conhecida pelos ingleses como 'Costas Negras' no ano de 1790.
O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel é um dos mais importantes do concelho de Sesimbra. Como o seu próprio nome indica está situado nas imediações do Cabo Espichel. Foi construído no século XVIII. É de planta longitudinal composta por uma nave e capela-mor. Em cada lado da sua fachada encontram-se as torres sineiras. Unido ao Santuário encontra-se um conjunto de dependências que serviam de refúgios para os peregrinos. Está classificado como Bem de Interesse Público desde o ano de 1950.
A presença de um trilho fóssil de pegadas de dinossauros, com origem na praia subindo a falésia até ao planalto onde se encontra o Santuário, deu origem a uma lenda curiosa, que relata a existência de um animal, designado por "MUA", o qual teria conduzido Nossa Senhora, da praia até ao planalto. De facto, até 1428, a ermida era conhecida por Santa Maria da Pedra da Mua.

Realça-se ainda, no Cabo Espichel, a sua componente geológica. Merecem referência especial as arribas de origem sedimentar formadas por múltiplas camadas diferenciadas, onde se podem encontrar vários conjuntos de pegadas de dinossauros.

Para saber mais:

Fontes:


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Refúgio







"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido". Já o dizia Fernando Pessoa. 

Há locais que são verdadeiros refúgios da alma e há aqueles que o parecem ser. Aqui o ruído não faz com que não nos ouçamos a nós próprios. O silêncio faz antes com que estejamos apenas connosco. E, parece que não, mas isso é mais difícil do que tentarmos ignorar-nos com distracções. 
A Natureza tem destas coisas. Por entre vales descobrem-se refúgios só nossos. E às vezes não é preciso ir longe, nem viajar quilómetros...

“ (...)
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender... 

O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é. 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem por que ama, nem o que é amar... 
(...)” 

Alberto Caeiro in "O guardador de rebanhos"