segunda-feira, 28 de abril de 2014

Garganta de Loriga







A descida da garganta de Loriga foi um percurso de, sensivelmente, 11km que demorou 4h30 a fazer. Vista fantástica. Percurso óptimo e dia lindo. Com o percurso agora sinalizado, a caminhada torna-se mais fácil a nível de orientação no terreno. Mesmo assim, apanhámos um susto com cães pastores Serra da Estrela. O percurso passava no sítio onde estava um  rebanho a repousar e os cães vieram defender as suas ovelhas ladrando ameaçadoramente. Os pastores descansavam à sombra e não pareceram incomodados, mas lá que os cães metiam respeito, metiam!
Passámos numa zona que tinha sido queimada no dia anterior. Ainda fumegava. Ficámos preocupados pois deitava muito fumo, parecia que não estava bem apagado. Ainda comunicámos com a Protecção Civil, mas parece que tinham a zona controlada. 
Numa paisagem tão linda, é realmente criminoso o que fazem. 
No fim do nosso percurso, sendo que a última parte é a mais aborrecida pois é sempre a descer e como já se está a entrar na povoação a paisagem já não é tão encantadora, um café esperava-nos com água fresca e refrescante em todos os sentidos.
A garganta de Loriga é um vale glaciar típico com uma série de ferrolhos e covões glaciares.
Imagine-se um glaciar com cerca de 6,5 metros de comprimento que escoava a partir de uma calote, situada a 1750 metros de altitude, onde é hoje o Covão Boeiro. Esta calote alimentava a língua glaciária e descia o vale até muito perto do local onde hoje se situa Loriga.
As rochas são aborregadas, com superfícies lisas, polidas pela acção do gelo e os calhaus de diversas dimensões que se podem observar ao longo do vale tiveram origem na fricção entre o substrato rochoso e os detritos transportados pelo glaciar na sua base. Ao deslocarem-se em contacto com o substrato, os detritos fragmentam-se, mas também o afectam, deixando estrias e outras marcas.
Ao aproximarmo-nos de Loriga vemos uma povoação instalada em terrenos graníticos e abrigada dos rigores climáticos. Nas encostas em torno observam-se os socalcos construídos para o uso agrícola.
Durante o Quaternário, "há cerca de 20000 anos, a temperatura atmosférica desceu pelo menos 10 ºC e a parte mais alta da Serra da Estrela ficou coberta por glaciares. Estes glaciares deixaram testemunhos geomorfológicos que são únicos em Portugal e constituem, sem dúvida, a maior originalidade da paisagem física do Parque Natural da Serra da Estrela."
Depois de se conhecer as origens de algumas das maravilhosas formações existentes na serra, compreende-se melhor o maravilhoso local que é e as histórias que tem para nos contar. 
Tal como a Serra, o nosso planeta é um milagre cheio de história. Só temos de o ouvir melhor! 


Bibliografia:
Ferreira N. & Vieira, G. (1999) - Guia Geológico e Geomorfológico do Parque Natural da Serra da Estrela, Instituto da Conservação da Natureza e Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa, 112 p.

2 comentários:

Romwell disse...

A combinar mais errâncias este verão. Loriga - Vide / Torre - Manteigas.
;)

zuska disse...

:) Acho muito bem!
Nós não estaremos por cá, mas faremos gosto em acompanhar as vossas errências à distância, esperando, depois, participar em muitas mais convosco! :D