Khuzir |
Prayers site, Shaman rock |
Khuzir road |
Shaman ritual |
Paths go apart |
High view point, Khuzir |
Khuzir (GMT+8).
Há sempre
dias de melhor ou pior humor, e quando se viaja não é excepção. Seja porque há
dias que as coisas não nos correm bem, ou porque não gostamos particularmente
de um sítio ou das pessoas que nos rodeiam naquele momento. Há sempre dias em
que não apetece ver ninguém ou não apetece falar com ninguém.
Uma das
coisas boas enquanto se viaja e se tem de conviver e partilhar espaços com
outras pessoas é aprendermos a ser realmente donos do nosso espaço. Podemos
sentar-nos numa cama a ler e não falar e ninguém nos irá julgar por isso. E se
o fizer, também não nos interessará muito pois amanhã já não estaremos no mesmo
sítio. É bom aprendermos a ouvir-nos e a dizer que não.
A música
é e sempre será uma grande ajuda nesses momentos. Consegue levantar-me o ânimo
e fazer-me deixar de sentir o coração pesado. Afinal, mesmo que nem sempre me
apeteça falar com alguém, tenho o privilégio de estar bem e num sítio que
escolhi para estar.
Hoje é o
nosso último dia na ilha. Fomos fazer mais uma
caminhada, desta vez até a um ponto alto
para podermos ter uma melhor vista de toda a ilha. O Léo e a Julie
acompanharam-nos pois eles iam prosseguir o caminho atravessando a ilha, até à
outra costa. Planearam passar uma ou duas noites na tenda, dormindo por onde
lhes apetecesse, e depois voltar a Khuzir.
No dia anterior tínhamos ido todos para uma das praias e
mergulhámo-nos nas águas geladas do lago na esperança que o dito popular esteja
certo e que ganhemos mais uns anos de vida!
Chegado
foi o momento em que literalmente os nossos caminhos se separavam: eles
continuavam em frente e nós viraríamos à direita para o monte. Despedimo-nos
dos nossos companheiros dos últimos dias desejando-lhes o melhor que a vida
lhes tem para oferecer e vimo-los desaparecer atrás das colinas verdes de
Olkhon.
Nós
ficámos a contemplar a vista sobre a ilha, de um lado o lago, do outro uma
densa floresta de pinheiros, e ao longe a cidade principal. O tempo incerto
fez-se notar hoje novamente. Fez calor, depois veio um vento terrivelmente frio
que trouxe alguns chuviscos que depressa passaram para o céu voltar a abrir e o
sol aquecer-nos.
Os
pássaros e insectos passavam à nossa volta nas suas atarefadas vidas e era só
isso que se ouvia: os cantares suaves, zumbidos breves e o vento. Uma vez por
outra, sentia-se um carro que passava ao fundo, na estrada que vem de sul.
No
regresso à cidade fomos até à Rocha do Xamã para ver se víamos as marmotas e
deparámo-nos com um ritual xamã que ficámos a observar. Todos estavam em grupo
junto ao local de oração (uns paus em fila e ao alto com fitas atadas à volta e
pedras grandes alinhadas em frente destes) e comiam animadamente e partilhavam
comida. Depois (e sem percebermos a ordem) deitavam leite e vodka para uma
fogueira, punham uma moeda em cima de uma das pedras e seguidamente alguma
comida e mais leite e vodka. Também pronunciavam palavras enquanto o faziam, e
depois atavam fitas à volta dos paus.
Ficámos
ali tanto tempo a observar que nos vieram oferecer comida também. Sem sabermos
bem o que fazer, acabámos por deixar a nossa parte de oferenda numa pedra e
prosseguimos caminho.
Coincidência
ou não, o céu cinzento abriu-se e o sol surgiu enquanto eles ali estiveram...
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There are always days with a better or worse mood, and when traveling is
no exception. Either because there are days when things are not going well or
because we do not necessarily like a place, or the people around us at that
moment. There are always days when you do not feel like seeing anyone or do not
feel like talking to anyone.
One of the good things while traveling and have to socialize and share the
spaces with others is learning to truly own our space. We can sit in the bed
reading and not talk and no one will judge you for it. And if someone does, it does
not matter much because tomorrow we are no longer in the same place. It's good
to learn to listen to us and say no.
Music is and always will be a great help on these times. Gets me with
better mood and makes me stop feeling such a heavy heart. After all, even if not
always feel like talking to someone, I have the privilege of being well and on the
place I have chosen to be.
Today is our last day on the island. We did one more walk, this time to
a high point in order to have a better view of the whole island. Leo and Julie
accompanied us they were going to continue the way across the island to the opposite
shore. They planned to spend one or two nights in the tent, sleeping where they
sprang, and then return to Khuzir.
The day before we had gone all to one of the beaches and dive in the icy
waters of the lake with the hope that the saying is right and we win a few more
years of life!
The moment our paths diverged, literally, arrived: they continued
forward and we turned right to the hill. We said goodbye to our fellows from the
last days wishing them the best that life has to offer them and saw them
disappear behind the hills of Olkhon.
We fell to admire the view of the island, on one side the lake, on the
other a dense pine forest, and the main town far down. The uncertain weather
became noted again today. It was hot, then came a bitter cold wind that brought
drizzle that quickly went back to open sky and the sun warm us.
The birds and insects passed around us in their busy lives and that was
all that was heard: the soft singing, brief tinnitus and the wind. Once in a
while, we heard a passing car in the background, on the road from the south.
Returning to town we went to the Shaman Rock to look for marmots and we
faced a shaman ritual and stopped there watching. Everyone gathered in the
place of prayer (a few wooden bars in a row tied around with silk cloths and
great stones lined up in front of these) and ate happily and shared food. After
(and without realizing the order) lay milk and vodka to a fire, they put a coin
on top of one of the stones and then some food and more milk and vodka. Also
pronouncing words as they did this, and then they tied ribbons around the poles.
We stayed there so long watching that some of them came to offer us food
too. Without knowing what to do, we ended up leaving our part of offering on a
stone and proceed.
Coincidence or not, the gray skies opened up and the sun came up while
they were there...
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