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Chegados à grande e
movimentada estação de Moscovo, encontrámos facilmente o nosso comboio. Uma
senhora simpática à porta, que não falava inglês, viu-nos os bilhetes e
passaportes e fazendo números com as mãos indicou-nos os nossos lugares.
Na cabine onde estavam
as nossas 2 camas mais outras duas, já estava uma mulher russa, Svetlana, e o seu filho de 2 anos.
Começou logo a falar-nos num inglês atabalhoado mas que dava para entender.
Não sabia onde era
Portugal, mas Espanha sim. Então passou o tempo a dizer que os espanhóis eram
simpáticos e que achava as nossas feições muito bonitas. Concluímos, entre
risos, que de facto a diferença na diversidade étnica faz com que os
nossos conceitos estéticos difiram. Eu expliquei-lhe que para nós, os olhos dela
(claros) eram bonitos e ela disse logo abanando a cabeça a sorrir e passando as
mãos pelos olhos: “no, no! Your eyes!”
– os mais castanhos possíveis!
Foi ela que simpaticamente
nos ajudou a perceber o funcionamento do comboio: a cama que levanta para
guardar as malas, as escadas para subir para a cama de cima, as fronhas que
ainda seriam trazidas pela senhora da porta da carruagem (chamemos-lhe a
controladora)... depois perguntou-nos: “Os vossos comboios não são como estes?”
-“Não, não. It’s
not a big country”. Ela acenou compreensivamente e a rir.
Trabalha no circo,
desde pequena, tal como os pais. Já foi trapezista, agora tem 6 cavalos.
Viajava de Moscovo, onde foi visitar a mãe, para a cidade onde o seu circo
está. É essa a vida dela. Não quis dizer a idade, diz que e muito velha. A mim
não me pareceu.
Ofereceu-me pão com
carne e fez questão que comesse enquanto ela adormecia o filho que estava com a
birra do sono. É comum para os russos partilharem a comida mesmo com quem não
conhecem.
O comboio, para eles, é
local de convivío e descontração. Todos vêm preparados para longas viagens com
chinelos e calças confortáveis que vestem assim que chegam ao seu lugar. Há
inclusive aqueles que se passeiam só em calções.
Cada carruagem é gerida
por duas pessoas que se alternam. São os responsáveis por estar à porta a
conferir os bilhetes, dar-nos as fronhas para a cama, vir acordar e avisar as
pessoas da altura da saída e tratam da manutenção da carruagem e sua limpeza.
De manhã aspiram o chão do corredor e de cada cabine. As casas de banho têm
sempre papel e sabonete para as mãos, embora não haja duche. Tudo é
ordeiramente arrumado e mantido em ordem.
Pode comprar-se chá ou
ter acesso a água quente para café solúvel (se o levarmos) ou para refeições
pré-cozinhadas.
Olho lá para fora, o
embalo do comboio com a dança dos cabos de electricidade que vão passando à
janela são hipnotizantes. Combato o sono para observar a paisagem. Verde e mais
verde num terreno sempre plano. Já em pequena ia no carro e gostava de ir de
olhos abertos. Queria absorver e memorizar tudo o que via, pensava eu. Há
coisas que não mudam!
A ‘Lana’ desceu e veio um novo passageiro para a cama dela. Eu acho
que ele está um pouco bêbedo e trouxe a cerveja com ele, que já entornou para o
tapete. Viu que não falavámos russo, então começou a tentar falar inglês e
disse que Portugal é fixe. Acho que percebi que ele trabalhou em Angola e no
Congo.
O tempo passa rápido
entre sestas, conversas e leituras. Demasiado rápido até. Parece que voa com a
paisagem lá fora. Árvores alternam com pequenas povoações de madeira junto a
cultivos. Penso que entendi que lhes chamam datsha.
É o local para onde as pessoas vão ao fim de semana para trabalharem a terra.
Às 2h da manhã os
senhores que iam connosco saíram. Desejaram-nos “Good luck and
welcome to Russia!”
Entraram novas pessoas.
É hora de ir dormir. Ninguém fala. O céu ainda está claro, acho que não
escurece mais. Estamos em meados de Maio, em Junho de certeza que fica mais de
dia ainda.
Novo dia. Acordei às
11h de Moscovo mas não sei que horas são agora. O senhor da cama de cima já
saiu e outra senhora russa vê desenhos animados com a filha.
A paisagem não mudou,
continua tudo plano e verde. De vez em quando aparecem umas casas de madeira
muito pobres. São locais com a dimensão talvez das nossas vilas mais pequenas, mas com estradas por alcatroar.
Fez parecer que a
Rússia é demasiado grande para se lembrarem de todos os lugares...
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Arrived at the big and busy Moscow train station, we easily found our train.
A nice lady at the door, who didn't speak English, saw our tickets and passports and making numbers with her hands showed us our seats.
In the cabin, where they were our two beds plus
two others, was already a Russian woman, Svetlana, and her 2 year old son.
Soon began to speak to us in a poor English that could be understood.
She didn't know where Portugal was, but Spain yes, so she spent the time saying that the Spanish were friendly and that she we thought that we have very beautiful features. We conclude, between laughs, that in fact the
difference in ethnic diversity makes our esthetic concepts diverse. I
explained to her that for us, her blue eyes were beautiful and she just
said, shaking her head and smiling: "No, no! Your eyes!" - the most brown eyes ever!
It was she who kindly helped us understanding the
functioning of the train: the bed posing for storing bags, small stairs to go to the top bed, the pillowcases that should be brought by the lady standing at the carriage door (we call her the controller actually)... And the she asked us: "Your trains
are not like these ones?"
- " No, no. It's not a big country." She nodded understandingly and laughed.
She works in the circus, since her childhood, as her parents. Already worked as a trapeze, now has 6 horses. She traveled to Moscow to visit her mother, and now was returning to the city where the circus is. That's her life. She didn't want to say her age. She's to old, she says. It didn't seem to me!
Offered me bread with meat and made sure I ate it while she was trying to put her son to sleep. It is
common for the Russians to share food even with those who they don't know.
For them the train is a place of
entertainment and relaxation. They all come prepared for long trips bringing their slippers
and comfortable wearing pants that they wear as soon as they got their places. There are even
those who wander only in shorts.
Each carriage is responsability of two persons who
alternate between each other. They are responsible for being at the door to see the tickets, give us the
pillowcases for the beds, wake up and warn people that they're arriving at their stops and
deal with the maintenance of the carriage and its cleanliness. In the morning they're vacuuming the small corridor and each cabin. The bathrooms have always paper and hand soap, although there is no shower on it. Everything is neat and kept in order.
On the trains you can also buy tea or have access to hot water for
instant coffee (if we brought it with us) or to pre-cooked meals.
I look outside, the train moviments with
the dance of power lines that go through the window are hipnotising me. I fight against sleep to watch the scenery: green and plan land. Even when I was little, I used to go in tha car and I always liked to go with the eyes open. I wanted to absorb and memorize
everything I sawt. Some things never change!
'Lana' went off and a new passenger came to
her bed. I think he is a bit drunk and brought beer with him, which was already spilled onto the carpet.
He saw that we didn't speak Russian, then started
to try to speak English and said that Portugal is cool. I think I understood that he
worked in Angola and Congo.
Time flies between naps, conversations and
readings. Faster than it should. Looks like goes with the landscape outside. Trees
alternate with small wooden villages along the crops. I think they call it datsha. It is the place where people go on the weekend to work the land.
At 2 AM the gentlemen who were in our cabin went off the train. They wished us "Good luck and welcome to Russia!"
New people entered. It's bedtime. No one
speaks. The sky has still light, I think it does not get more dark. We are in
the middle of May, in June for sure it will be day even later.
A new day comes. I woke up at 11 AM, Moscow time, but I don't know what time it is now. The man of one of the beds already left and another russian lady is watching cartoons with her daughter .
The landscape has not changed, it remains flat
and green. Occasionally some very poor wooden houses appear. These locals are perhaps of the
size of portuguese smallest towns, but these ones with dirty roads.
It seems that Russia is too big to be all remembered...
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